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18 dezembro 2010

dormente

não sinto os braços, as pernas, as mãos. na cabeça transporto uma dor constante que já nem sinto e o peito apertado impede-me de respirar fundo. estou dormente. não sinto o meu corpo, não sinto nada. nem dores, nem alegrias, nada.
como uma televisão que perde o sinal e fica a chover. tshhhhhhh... o vazio.
estou adormecida. estou em coma-sensorial. estou dormente.

20 setembro 2010

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Se hoje é dia 20, ontem foi dia 19.

19 setembro 2010

a minha família.

A minha família é barulhenta. A minha família é espaçosa. É ruidosa, é alegre, às vezes melancólica. É pachorrenta, é tranquila. É generosa. É feliz. É bonita. É pequena e é grande. É alta, é baixa, é magra, é gorda. É verde e amarela. É azul, é branca, é encarnada. É um coração do tamanho do mundo. É um copo de água fresca. É areia quente da praia. É uma tenda na planície. É uma gargalhada sonora. É confiante. É confiável. É pai, é mãe. É irmão, avós e cunhados. É viciante. É encantadora. É confortável e é segura. É quentinha. É camisola de algodão. É mobília resistente. É estrela polar. É almofada fofa. É quadro de museu. É música alta, é poema de Gedeão.
A minha família é tudo isto e o resto que fica dentro do peito. É a minha família. E a família é minha.



(uma melancolia agridoce enche-me o peito depois de um fim-de-semana em família.
o pai, a mãe, o irmão, a cunhada, a cadela-sobrinha e o marido.)

01 setembro 2010

de partida

há quem diga que a arte nasce da dor. que no reboliço de sentimentos perdidos e achados sai a criação, numa inspiração melancólica, quase divina, quase divinal.
eu cá não sei ainda de que opinião sou, mas sei que não vejo arte nenhuma nesta lança espetada no peito.

vou ali respirar mais longe e já volto.

28 agosto 2010

corrente de ar

Quando foste embora, melhor, quando desapareceste, abriu-se em mim uma fenda funda, profunda e dolorosa. Como uma rajada de vento, uma corrente de ar que tranca uma porta a um palmo do nariz.
Quando foste embora, melhor, quando desapareceste, uma espécie de sabor amargo invadiu-me o paladar durante dias. Um zumbido permanente nos ouvidos, uma dor de cabeça intermitente. Um enjoo matinal que durava o dia todo.
Quando foste embora, melhor, quando desapareceste, levaste-me contigo à bruta, sem dares por isso. Como se tivesse um bocadinho de mim a menos, levado pela água salgada que me escorre teimosamente pelas bochechas.

Hoje acordei e decidi que te vou mandar embora, te vou fazer desaparecer.

31 maio 2010

a casa dentro da casa.

há um sítio que fica muito longe dentro de mim. debaixo da minha pele há um lugar que mais ninguém conhece. é aí que vive uma malabarista com o mesmo nome que eu e cujo desejo profundo é conseguir manobrar a vida com equilíbrio, delicadeza e humor durante pelo menos 10 minutos por dia. sempre que cair uma bola ao chão, recomeça. o segredo está na persistência. tranquilamente, volta ao início para tentar de novo. um dia, está segura, há-de-conseguir.
até lá, vai vendo a cidade acompanhada pelo rio e sorrindo aos artistas de rua.