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30 abril 2012

o coração maior, muito maior, que todas as palavras do mundo.
o coração que parece querer rebentar pelas costuras mas que de alguma maneira parece conter sempre mais, todos os dias mais, a cada manhã maior.
as palavras todas do mundo que não chegarão nunca.
este meu coração que não sabia dar para tanto.
este meu coração envergonhado, atordoado, atabalhoado, adolescente, que tremelica de cada vez que te vê.
este meu coração renovado, que nasceu outra vez.




[falar de amor é cliché.
bem sei.
mas no estado em que estou, são-me permitidas todas as pirosices que quiser.]

23 abril 2012

triângulo

era uma vez um triângulo.

dois pontos paralelos no começo, ligados por uma recta delicada entre si, como quem dá as mãos e segue em frente.

na impossibilidade de seguir em paralelo - pois falamos de um triângulo - nascem duas outras rectas, desta feita consistentes, feitas de argamassa, que lentamente se vão encaminhando para o mesmo ponto solar, o topo do triângulo, como cume de montanha.



juntas, transformam-se agora num mesmo ponto, que aponta e foge para a frente.
com coragem, força, determinação.

juntos,
poderemos tudo.

18 abril 2012

lembranças

lembro-me
de quase termos desistido.
[lágrimas grossas, velozes, bochecha a baixo, numa manhã dura e azul]
lembro-me
de quase termos dito "não" a isto
[gritos mudos em casa de banho pública, escondida para que ninguém me soubesse]
lembro-me
do toque, em segredo, no meio da multidão, dos encontros secretos ao som de música bonita.
[dentes crivados, contra os lábios, num leve contorcer de desespero]
lembro-me
de cada degrau subido em desespero ao fim de uma noite de sentires maiores que o coração.
[as mãos trementes e a chave que não entra na porta]
lembro-me

e espero nunca me esquecer.

[para que saibamos sempre o que nos trouxe aqui]

15 abril 2012

a suspensão das coisas # 2

perguntam-me porque danço.
que coisa é essa afinal.

[...]

fechar os olhos.
o mundo todo ficou lá fora: o trabalho, o ruído, as filas, os papéis, o trânsito, as decisões, os amigos, até a família. deixas tudo do lado de lá, para seres apenas um corpo e um nome, no meio da multidão.
fechar os olhos e ouvir o que diz a música.
segui-la.
deixar que seja ela a decidir por ti.
viajar para longe, à velocidade da luz ou ao ritmo das ondas do mar. o balançar ritmado, ondulante, de um corpo leve, livre, pleno. um corpo que fala sem falar. melancólico e alegre. saudoso e feliz. cansado e enérgico. um corpo que diz tudo sem que precises de dizer nada.
longe, lá bem longe, onde ninguém chega, onde ninguém vê, onde existes unicamente para o verbo Ser.
longe, lá bem longe, onde suspendes o mundo.

sem juízos de valor. sem preconceitos. sem regras. sem coordenadas. sem obrigações.
apenas a música. e o teu corpo.
tu algures a flutuar entre os dois.

ansiolítico dos dias volumosos.
terapia da vida mundana.

longe, lá bem longe, onde te acompanham os sorrisos, gargalhadas e abraços cúmplices de quem caminha ao teu lado, de quem também deixou o mundo do lado de fora. de corpos que, como tu, também suspendem a vida dançando.

respondo, finalmente, que danço essencialmente, para me saber ser em pleno.

14 abril 2012

a suspensão das coisas # 1

quando tiras uma fotografia, suspendes, na verdade, o mundo inteiro.
naquela fracção de segundo estão contidas todas as ilusões, desilusões, imaginações.
todos os sorrisos, gargalhadas, tempestades, novidades e amizades.
todos os segundos do mundo, todos os momentos do mundo, daquele exacto congelar de tudo e todos.
quando tiras uma fotografia, suspendes o mundo inteiro.

poderemos suspender, assim, o mundo, sempre que quisermos?

10 abril 2012

a melancolia dos dias cinzentos

e se...?
começam as perguntas.

e se, tão certo como o tempo mudar todos os dias,
tudo isto mudar também?
e se, acordarmos amanhã e aquilo que nos espera não será mais que desilusão, cansaço, desgasto?

dizes-me que o dia mais importante das nossas vidas é hoje.
e tens razão. só tenho de me lembrar mais vezes.

06 abril 2012

manual da auto-comiseração #3

havia dias em que acordar era penoso, doloroso, vagaroso, diria mesmo, perigoso.
dias em que cimento te apertava as têmporas com força e tudo girava em teu redor. e ficavas ali, na espectativa, com medo, sem saber como parar o mundo, pará-lo a tempo da implosão.
arrastavas-te pela cidade cinzenta, triste, zangada contigo, zangada com todos, todos zangados com a cidade.
[que mal te fizera ela, afinal?]

folheavas apenas um livro que não era o teu, deixavas que o vento voltasse as páginas por ti. lias, sem ler. estavas ali. dormente, ausente.
a porcaria de um comando de televisão como melhor amigo.
[que agora não passa de objecto caduco em cima de um móvel, desligado da electricidade.]

como Ícaro preso no labirinto.

essa pessoa, já foste tu.
que nunca te esqueças.




 foste: pretérito perfeito do verbo Ser.