Quando foste embora, melhor, quando desapareceste, abriu-se em mim uma fenda funda, profunda e dolorosa. Como uma rajada de vento, uma corrente de ar que tranca uma porta a um palmo do nariz.
Quando foste embora, melhor, quando desapareceste, uma espécie de sabor amargo invadiu-me o paladar durante dias. Um zumbido permanente nos ouvidos, uma dor de cabeça intermitente. Um enjoo matinal que durava o dia todo.
Quando foste embora, melhor, quando desapareceste, levaste-me contigo à bruta, sem dares por isso. Como se tivesse um bocadinho de mim a menos, levado pela água salgada que me escorre teimosamente pelas bochechas.
Hoje acordei e decidi que te vou mandar embora, te vou fazer desaparecer.