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30 maio 2014

do limite

no limiar. da garganta apertada, do nó e do vinco por baixo dos olhos.
as rugas, as olheiras, água por favor. quero água. e um lenço, já agora.
eu. ele. e os outros. eu e ele. eu e os outros. eu e tu. tu.
dias difíceis. no limiar. da garganta apertada, do nó e do vinco por baixo dos olhos.
um toque basta. um perfume. um olhar. duas palavras, uma canção.
não estás. não te vejo. não vais estar nem te vou ver.
dias difíceis. a cabeça que rebenta, o coração que aperta, a voz que embarga, o nó e o vinco por baixo dos olhos.
tu que não estás, tu que não voltas.
e eu aqui, a tentar perceber como é isto. isto da saudade. da dor, do nó e do vinco por baixo dos olhos.
dias difíceis. e mil sorrisos em como escolho ser feliz à mesma.
ai-quanto-apostas. é que não sei ser de outra forma. feliz à mesma. a lembrar-te, a saber que não voltas e no limiar. da garganta apertada, do nó e de tudo o resto. por baixo e à volta dos olhos. do coração em apuros e da cabeça congestionada.
não sei ser outra coisa do que mesmo-assim e sei que havias de concordar. "e estás boazinha? está tudo bem contigo? o que interessa é estares bem."
e olha, há dias em que não estou, mas são só dias, horas. isso que importa, na imensidão dos 30 anos que levamos, tu e eu? há dias maus, mas o que interessa é estar bem e sabes, estou mesmo.
são eles, os amigos e ele, o marido, que me seguram e tomam conta de mim. o resto da família, estamos todos bem. ela está tão crescida e "espertalhona" - como dizias. ela está bem, descansada. pinta as unhas, voltou a fazer crochet. dorme bem. visito-a todas as semanas.
e mil sorrisos em como escolho ser feliz à mesma. feliz a chorar, feliz quando estou triste. feliz porque esta vida boa é boa a valer. e há dias difíceis, pois há.
mas eu escolho ser feliz à mesma.

e acho que foste tu que me ensinaste a ser assim.
tu que foste sempre feliz à mesma.

29 maio 2014

para pôr atrás da porta


hoje é quinta-feira. a quinta-feira da espiga. 
na tua terra, nesse ribatejo de lezírias, cavalos e cheias em tempo de chuva, hoje é feriado.
quando andava na escola primária, este era o único dia em que a mãe nos deixava faltar, para podermos ir convosco apanhar a espiga. havia piquenique, passeio pelo campo, arranhões nas pernas e muitas histórias de infância. como sempre. 
depois fui crescendo mas mesmo assim, todos os anos me oferecias um raminho de espiga, para pôr atrás da porta. mesmo quando arranjei a minha própria casa. 

este ano não tenho ninguém que me ofereça uma espiga. 

mas vou arranjar uma. prometo.



23 maio 2014

o miradouro

há um sítio em lisboa que me faz sempre lembrar de ti. daquela tarde em que me levaste ao museu, devia ter uns 18 anos, e em que almoçámos cozido à portuguesa num restaurante pequenino do outro lado da rua, atravancados numa mesa para dois mesmo ao lado da porta, os carros a passar.
tivemos muitos dias desses, tu e eu.
não é o meu sítio preferido em lisboa. nem tão-pouco o mais bonito. mas faz-me sempre lembrar de ti.
passo lá todos os dias, a caminho de casa. e todos os dias me lembro de ti. e dessa tarde de primavera. tu e eu, no museu de arte antiga, depois do cozido à portuguesa. [ou teria sido antes?]

a falta que me fazes é do tamanho de 30 anos e de todas as ruas, todos os caminhos que percorremos. a pé, de bicicleta, de eléctrico. é do tamanho de lisboa, da golegã, da praia da costa e de tudo quando vivemos juntos. dá a volta à feira do livro e está escrita em todas as colecções de bolso europa-américa lá de casa.
a falta que me fazes, dá a a volta ao mundo e regressa sempre à casa de partida. onde estão as memórias, onde reside o amor.




...
sabes que descobri há uns dias que existe uma rua em lisboa com o nosso nome?
tenho de lá ir tirar uma fotografia. 







21 maio 2014

fazes-me tanta falta, tanta,
que às vezes acho que me vai parar o coração.


a leveza dos 30

não sou de noitadas. não sou de festas, bebedeiras, música alta e excessos. não sou de festivais de verão, de super bock na mão e de concertos de rock alternativo.
também não sou de exposições de arte contemporânea, inaugurações de galerias ou de arte performativa. sou de teatro inteligente e de cinema francês.
estou k.o. às 03h da manhã e durmo até ao meio-dia.
não sou da latest trend in fashion, nem hipster, nem hippie-chick. sou de saias coloridas, de sapatos confortáveis e de franjas enviesadas.
não estou na moda.
não sou fixe.
não vivi lá fora, nem tive fuck-buddies.
sou provavelmente, aos teus olhos, uma lame-do-mais-boring-que-há.
gosto de concertinas e o som do violoncelo emociona-me. estou apaixonada pela minha casa e o que gosto mesmo é daquelas noites livres no sofá, por entre lãs, agulhas e mantas de crochet.
gosto de vinho tinto na companhia de amigos e uma boa conversa noite dentro. talvez uma ginja e um cigarro.
gosto de dançar a valsa.
e às quartas-feiras janto na casa dos meus pais.
pior que tudo, afinal diz que sou uma antiquada. vou casar-me. com ele. o ser mais luminoso que já conheci. e, guess what? também não está na moda. também não é de noitadas nem de rock alternativo. é a medida exacta de tudo o que eu sou.
aquilo que nos interessa mesmo? rir. rir muito. às gargalhadas, alto e todos os dias. por tudo e por nada.
e te garanto, somos exímios a consegui-lo. um espirro. um encontrão. qualquer razão é boa.
sou lame.
sou uma seca.
antiquada, fora de moda, velha.
mas sou tão, mas tão feliz assim.

19 maio 2014

se virmos bem, e nem é preciso muita atenção ao detalhe, somos completamente diferentes. a tua vida e a minha seguem caminhos tão distintos, que é cada vez mais difícil que se cruzem.
o problema é que, ultimamente, tenho questionado a minha vontade em persistir. e 30 anos depois, estou quase a concluir que já não me interessa mais isto entre nós. seja lá o que for.
porque é desigual, foi injusto uma vida inteira e não me faz feliz. pelo contrário, faz-me andar volta-não-volta a bater com a cabeça nas paredes a tentar entender o que é que afinal nos une.
falhaste-me. em momentos cruciais, em especial no último.
e o que me deixa mais triste, é que nem reparaste.
desta vez, nem te vou explicar.