no limiar. da garganta apertada, do nó e do vinco por baixo dos olhos.
as rugas, as olheiras, água por favor. quero água. e um lenço, já agora.
eu. ele. e os outros. eu e ele. eu e os outros. eu e tu. tu.
dias difíceis. no limiar. da garganta apertada, do nó e do vinco por baixo dos olhos.
um toque basta. um perfume. um olhar. duas palavras, uma canção.
não estás. não te vejo. não vais estar nem te vou ver.
dias difíceis. a cabeça que rebenta, o coração que aperta, a voz que embarga, o nó e o vinco por baixo dos olhos.
tu que não estás, tu que não voltas.
e eu aqui, a tentar perceber como é isto. isto da saudade. da dor, do nó e do vinco por baixo dos olhos.
dias difíceis. e mil sorrisos em como escolho ser feliz à mesma.
ai-quanto-apostas. é que não sei ser de outra forma. feliz à mesma. a lembrar-te, a saber que não voltas e no limiar. da garganta apertada, do nó e de tudo o resto. por baixo e à volta dos olhos. do coração em apuros e da cabeça congestionada.
não sei ser outra coisa do que mesmo-assim e sei que havias de concordar. "e estás boazinha? está tudo bem contigo? o que interessa é estares bem."
e olha, há dias em que não estou, mas são só dias, horas. isso que importa, na imensidão dos 30 anos que levamos, tu e eu? há dias maus, mas o que interessa é estar bem e sabes, estou mesmo.
são eles, os amigos e ele, o marido, que me seguram e tomam conta de mim. o resto da família, estamos todos bem. ela está tão crescida e "espertalhona" - como dizias. ela está bem, descansada. pinta as unhas, voltou a fazer crochet. dorme bem. visito-a todas as semanas.
e mil sorrisos em como escolho ser feliz à mesma. feliz a chorar, feliz quando estou triste. feliz porque esta vida boa é boa a valer. e há dias difíceis, pois há.
mas eu escolho ser feliz à mesma.
e acho que foste tu que me ensinaste a ser assim.
tu que foste sempre feliz à mesma.
vive em mim uma malabarista com o mesmo nome que eu, cujo desejo é conseguir manobrar a vida com equilíbrio durante pelo menos 10 minutos por dia.
30 maio 2014
29 maio 2014
para pôr atrás da porta
hoje é quinta-feira. a quinta-feira da espiga.
na tua terra, nesse ribatejo de lezírias, cavalos e cheias em tempo de chuva, hoje é feriado.
quando andava na escola primária, este era o único dia em que a mãe nos deixava faltar, para podermos ir convosco apanhar a espiga. havia piquenique, passeio pelo campo, arranhões nas pernas e muitas histórias de infância. como sempre.
depois fui crescendo mas mesmo assim, todos os anos me oferecias um raminho de espiga, para pôr atrás da porta. mesmo quando arranjei a minha própria casa.
este ano não tenho ninguém que me ofereça uma espiga.
mas vou arranjar uma. prometo.
23 maio 2014
o miradouro
há um sítio em lisboa que me faz sempre lembrar de ti. daquela tarde em que me levaste ao museu, devia ter uns 18 anos, e em que almoçámos cozido à portuguesa num restaurante pequenino do outro lado da rua, atravancados numa mesa para dois mesmo ao lado da porta, os carros a passar.
tivemos muitos dias desses, tu e eu.
não é o meu sítio preferido em lisboa. nem tão-pouco o mais bonito. mas faz-me sempre lembrar de ti.
passo lá todos os dias, a caminho de casa. e todos os dias me lembro de ti. e dessa tarde de primavera. tu e eu, no museu de arte antiga, depois do cozido à portuguesa. [ou teria sido antes?]
a falta que me fazes é do tamanho de 30 anos e de todas as ruas, todos os caminhos que percorremos. a pé, de bicicleta, de eléctrico. é do tamanho de lisboa, da golegã, da praia da costa e de tudo quando vivemos juntos. dá a volta à feira do livro e está escrita em todas as colecções de bolso europa-américa lá de casa.
a falta que me fazes, dá a a volta ao mundo e regressa sempre à casa de partida. onde estão as memórias, onde reside o amor.
tivemos muitos dias desses, tu e eu.
não é o meu sítio preferido em lisboa. nem tão-pouco o mais bonito. mas faz-me sempre lembrar de ti.
passo lá todos os dias, a caminho de casa. e todos os dias me lembro de ti. e dessa tarde de primavera. tu e eu, no museu de arte antiga, depois do cozido à portuguesa. [ou teria sido antes?]
a falta que me fazes é do tamanho de 30 anos e de todas as ruas, todos os caminhos que percorremos. a pé, de bicicleta, de eléctrico. é do tamanho de lisboa, da golegã, da praia da costa e de tudo quando vivemos juntos. dá a volta à feira do livro e está escrita em todas as colecções de bolso europa-américa lá de casa.
a falta que me fazes, dá a a volta ao mundo e regressa sempre à casa de partida. onde estão as memórias, onde reside o amor.
...
sabes que descobri há uns dias que existe uma rua em lisboa com o nosso nome?
tenho de lá ir tirar uma fotografia.
tenho de lá ir tirar uma fotografia.
21 maio 2014
a leveza dos 30
não sou de noitadas. não sou de festas, bebedeiras, música alta e excessos. não sou de festivais de verão, de super bock na mão e de concertos de rock alternativo.
também não sou de exposições de arte contemporânea, inaugurações de galerias ou de arte performativa. sou de teatro inteligente e de cinema francês.
estou k.o. às 03h da manhã e durmo até ao meio-dia.
não sou da latest trend in fashion, nem hipster, nem hippie-chick. sou de saias coloridas, de sapatos confortáveis e de franjas enviesadas.
não estou na moda.
não sou fixe.
não vivi lá fora, nem tive fuck-buddies.
sou provavelmente, aos teus olhos, uma lame-do-mais-boring-que-há.
gosto de concertinas e o som do violoncelo emociona-me. estou apaixonada pela minha casa e o que gosto mesmo é daquelas noites livres no sofá, por entre lãs, agulhas e mantas de crochet.
gosto de vinho tinto na companhia de amigos e uma boa conversa noite dentro. talvez uma ginja e um cigarro.
gosto de dançar a valsa.
e às quartas-feiras janto na casa dos meus pais.
pior que tudo, afinal diz que sou uma antiquada. vou casar-me. com ele. o ser mais luminoso que já conheci. e, guess what? também não está na moda. também não é de noitadas nem de rock alternativo. é a medida exacta de tudo o que eu sou.
aquilo que nos interessa mesmo? rir. rir muito. às gargalhadas, alto e todos os dias. por tudo e por nada.
e te garanto, somos exímios a consegui-lo. um espirro. um encontrão. qualquer razão é boa.
sou lame.
sou uma seca.
antiquada, fora de moda, velha.
mas sou tão, mas tão feliz assim.
também não sou de exposições de arte contemporânea, inaugurações de galerias ou de arte performativa. sou de teatro inteligente e de cinema francês.
estou k.o. às 03h da manhã e durmo até ao meio-dia.
não sou da latest trend in fashion, nem hipster, nem hippie-chick. sou de saias coloridas, de sapatos confortáveis e de franjas enviesadas.
não estou na moda.
não sou fixe.
não vivi lá fora, nem tive fuck-buddies.
sou provavelmente, aos teus olhos, uma lame-do-mais-boring-que-há.
gosto de concertinas e o som do violoncelo emociona-me. estou apaixonada pela minha casa e o que gosto mesmo é daquelas noites livres no sofá, por entre lãs, agulhas e mantas de crochet.
gosto de vinho tinto na companhia de amigos e uma boa conversa noite dentro. talvez uma ginja e um cigarro.
gosto de dançar a valsa.
e às quartas-feiras janto na casa dos meus pais.
pior que tudo, afinal diz que sou uma antiquada. vou casar-me. com ele. o ser mais luminoso que já conheci. e, guess what? também não está na moda. também não é de noitadas nem de rock alternativo. é a medida exacta de tudo o que eu sou.
aquilo que nos interessa mesmo? rir. rir muito. às gargalhadas, alto e todos os dias. por tudo e por nada.
e te garanto, somos exímios a consegui-lo. um espirro. um encontrão. qualquer razão é boa.
sou lame.
sou uma seca.
antiquada, fora de moda, velha.
mas sou tão, mas tão feliz assim.
19 maio 2014
se virmos bem, e nem é preciso muita atenção ao detalhe, somos completamente diferentes. a tua vida e a minha seguem caminhos tão distintos, que é cada vez mais difícil que se cruzem.
o problema é que, ultimamente, tenho questionado a minha vontade em persistir. e 30 anos depois, estou quase a concluir que já não me interessa mais isto entre nós. seja lá o que for.
porque é desigual, foi injusto uma vida inteira e não me faz feliz. pelo contrário, faz-me andar volta-não-volta a bater com a cabeça nas paredes a tentar entender o que é que afinal nos une.
falhaste-me. em momentos cruciais, em especial no último.
e o que me deixa mais triste, é que nem reparaste.
desta vez, nem te vou explicar.
o problema é que, ultimamente, tenho questionado a minha vontade em persistir. e 30 anos depois, estou quase a concluir que já não me interessa mais isto entre nós. seja lá o que for.
porque é desigual, foi injusto uma vida inteira e não me faz feliz. pelo contrário, faz-me andar volta-não-volta a bater com a cabeça nas paredes a tentar entender o que é que afinal nos une.
falhaste-me. em momentos cruciais, em especial no último.
e o que me deixa mais triste, é que nem reparaste.
desta vez, nem te vou explicar.
Subscrever:
Mensagens (Atom)