expr:class='"loading" + data:blog.mobileClass'>

29 fevereiro 2012

terapia de choque.
sair de casa. levar com o frio nas bochechas, as mãos geladas.
geralmente o sol faz-te esquecer do que não gostas. o frio não. o frio rasga-te por fora e por dentro. trinca-te as ideias, a alma. à força, à bruta.
lembras-te do que te tinhas forçado a esquecer, pensas no que não queres saber, descobres o que não queres que exista, concluis o que não queres decidir.
o coração foge-te do peito, um arrepio acorda-te velozmente.
está tudo ali, escancarado à tua frente.

pudesse vir o sol outra vez.

17 fevereiro 2012

os meus dentes chumbados

diz o provérbio que "quem feio ama, bonito lhe parece".
assim de um minuto que salta para o seguinte, tudo o que te compõe, bonito ou feio, bom ou mau, virtudes ou defeitos, parece coberto de deslumbre.
deixam de importar o remoinho na testa, o nariz torto e bicudo, a barriguinha desajeitada, a celulite, a voz desafinada, aquele sinal, o cabelo difícil de pentear, os pés tortos e os joelhos para dentro, as unhas roídas, o mau feitio matinal, o mau feitio diário, o ressonar, a tampa da sanita para cima, as cascas de tanjerina em cima da mesa, as meias no chão, o sal a mais na comida e as gargalhadas estridentes, que interrompem meio mundo. até os dentes chumbados passam a ter encanto.
porque muito para além da capa, o livro inteiro é que importa. o que conta, o que te diz, o que descreve, como começa, como se desenvolve, como acaba e como te toca.
e devagar, ou depressa demais, passam-se página a página na urgência de saber o que se segue.
o amor é uma espécie de matemática: ou se domina, ou se fica encurralado para sempre.

e logo eu, que nunca soube fazer uma conta de dividir.

12 fevereiro 2012

essências

havia quem me chamasse de bonequinha das sardas.
eu era aquela com ar de boneca de pano e pintas no nariz.
aquela que dançaricava e saltaricava por dentro ao som de bons amigos e sol a arder nas bochechas. aquela para quem uma música ainda pode conter muito mais que tudo o que houver para dizer. mas também aquela que se enrola como um bichinho-de-conta quando a tempestade ameaça. e que depois se espreguiça de braços esticados e sorriso largo assim que tudo passa.
observando com atenção, a bonequinha ainda existe.

10 fevereiro 2012

.


"(...) mas a mágoa não mora mais em mim. já passou, desgastei. para lá do fim.
é preciso partir.
é o preço do amor, para voltar a viver.(...)"

09 fevereiro 2012

é o que é.

a mesma realidade interior
e no entanto,
tão profundamente distantes no mundo real.

perguntar-nos-íamos o que vale mais: a realidade interior ou a realidade que se toca, se vive?
dir-se-ia que ambas.
e se ambas fossem conjugadas, ainda melhor.

não fosse aquela que está cá dentro ser a que nos mói, nos faz tremer e, eventualmente nos destrói.

[conheces-me os passos de cor. como se sempre me estivesses estado a observar de longe. como se sempre tivesses estado por perto. ]

conclui-se, portanto, que a realidade é tramada.
a interior e a que efectivamente se vive.

como dizia o outro,
"the show must go on".

07 fevereiro 2012

great expectations

cresces uma vida inteira na espectativa.
uma vida inteira a dizerem-te que quando fores crescida hás-de ter isto e aquilo e, hás-de poder escolher e, hás-de saber melhor e, hás-de viver assim e assado.
uma vida inteira passa por ti e ninguém te diz que quando lá chegares logo vês, que não vale muito a  pena pensares sobre isso, nem esperares demasiado. que a vida se vive de minuto em minuto. que os planos valem tanto como uma lata de atum. que o importante está nos detalhes, nos amigos que tens, na família que te rodeia, nos abraços inesperados, nas gargalhadas desprevenidas e nas lágrimas a rebentar.
mas ninguém te diz isso.
pelo contrário, cresces a esperar chegar a uma certa idade com uma série de conquistas nos bolsos. família, emprego certo, seguranças, psicoses resolvidas, maturidade suficiente para tomar as decisões certas e saber lidar com a vida.
e agora que estás quase lá a chegar, é que te dás conta de tudo isso.
e até é bonito.
mas custa como uma porta que se fecha no teu nariz.
e em vez de dares valor aos tais detalhes, amigos, família, abraços, gargalhadas e lágrimas, dias há em que olhas à volta e não reconheces conquista nenhuma.
tens quase 30 anos e de vez em quando ainda dependes dos teus pais.
não tens os filhos que tanto querias.
vives sozinha, ninguém depende de ti.
trabalhas sem contrato, sempre no limiar do desconhecido.
manténs uma auto-estima oscilante, que te belisca com força de vez em quando.
os medos e as incertezas que tinhas aos 18 continuam por perto.
ninguém te espera em casa à noite, depois do trabalho. nem ninguém está lá à mão de semear quando só tens vontade de te enrolar num abraço a chorar.
agora até andas sozinha de noite, na rua. a passos rápidos.
e ainda tens a necessidade de despejar o que te passa pela cabeça num blogue.
na tentativa de acreditar que alguém se importa.

mas essa não é a verdade, pois não?
a verdade é que tiveste coragem de agarrar a tua vida pelos cornos. tomar-lhe os pulsos e seguir com força, mesmo que sozinha. e decidir o que te apetece, quando te apetece e viver de minuto em minuto, mas em pleno.
a verdade é que tens os maiores amigos que podias desejar e uma família que te apoia incondicionalmente, e que te enrola num abraço quando precisas de chorar.
a verdade é que tens um trabalho que adoras, que te dá tudo sem pedires nada.
e que chegas a casa para alguém que se tornou família e te recebe sempre de bom humor e vontade de te ouvir.
a verdade é que te sentes leve como há muito não sentias e hoje é só um dia mau.

amanhã vais dançar e espantar tudo isso de sorriso na cara.

e se algum dia tiveres um filho, promete que lhe dizes a verdade.

06 fevereiro 2012

ôrganico

há pessoas que falam comigo e eu não as consigo ouvir.
depois há outras que sem nada dizer, ouço tudo o que me contam.

e isso,
é estranhamente natural.

música do dia




You can stop your crying, I'm never coming back
You can stop your crying, just walk down the tracks again
I just can't take the pressure, it's all too much for me
I just can't take the pressure, please just let me be

See I've been, breaking hearts, for far too long
Been loving you, for far too long,
Making plans now, for far too long
Yes I've been breaking hearts, for far too long
Loving you, for far too long,
It's time I left, it's time I'm moving on.

I'm gonna find a city, call the streets my own
I'm gonna find a city, drink until it's gone
The girls there, look so pretty, treat me oh so well
The girl there look so pretty, all just empty shells to me

See I've been, breaking hearts, for far too long
Been loving you, for far too long,
Making plans now, for far too long
Yes I've been breaking hearts, for far too long
Loving you, for far too long,
It's time I left, it's time I'm moving on.

When I need the shelter, I'll know just who to call
When I need the shelter, I'll be knocking on your door
But when it comes to dying, I'll do it on my own
I've never been too clever, I've always just hung on.

See I've been, breaking hearts, for far too long
Been loving you, for far too long,
Making plans now, for far too long
Yes I've been breaking hearts, for far too long
Loving you, for far too long,
It's time I left, it's time I'm moving on.

a indiferente leveza do ser

'opá e podiam-se escrever tantas coisas sobre isto.
sobre isto e sobre nada, realmente. que já pouco resta a dizer.
resta, isso sim, andar para a frente, caramba. de cabeça erguida, a fingir que "estamos bem, obrigadinha", que saúde é que é preciso. 
enfrentar os dias como se não fossem todos iguais, e a vida sempre a mesma. como se fosse tudo novidade e não soubéssemos de antemão o que vai acontecer. que, no fundo, é sempre o mesmo.
a verdade é que sobes sempre a mesma rua, voltas sempre à mesma casa e dormes sempre na mesma cama. a verdade é que às vezes isso sabe bem e outros dias há em que sabe a leite estragado, e que por preguiça lá vai ficando na porta do frigorífico.
finges que assim é que estás bem, que assim é que vale a pena.
e sais de casa com os phones bem pregadinhos aos ouvidos, para ver se disfarça o trânsito. na rua e na cabeça. pequenina-cabeça-que-não-páras-e-já-me-estás-a-irritar.
como se, na verdade, alguém se importasse.
"mais um dia, mais uma viagem."
quem pára, não anda.

04 fevereiro 2012

notas de uma música alegre

estava um frio-que-não-se-podia, apesar do sol e, a cabeça tilintava como campainha estridente. tliiiim tliiiim...!
aterras no meio do que te parece Lisboa, mas que te sabe a uma cidade marroquina qualquer, bem no meio da medina: vendedores, regateios, trocas, quinquilharia, tralha-que-nunca-mais-acaba, magotes e magotes de gente. o encanto da feira da ladra ao sábado de manhã.
o rio parece cumprimentar-te com um doce balançar de maré cheia e a sombra que traz o vento diz-te bom dia como quem vive em aldeia.
no meio da multidão algo te faz parar. a música que trazes nos ouvidos e que mais ninguém ouve, chama por ti como quem quer dançar ali mesmo, naquele meio, naquela medina, naquele alcatrão forrado a parafusos, telefones, sapatos mais gastos que o chão, grafonolas, vinis e cães de loiça.
fechas os olhos e sorris. é a música outra vez a chamar por ti.
deixas-te levar por ela, que me interessa se me acham esquisita?
invade-te uma felicidade estranha, esta a que já te vais habituando, pelo menos uma vez por semana. é uma felicidade nova, diferente de tudo.
são as tuas pernas que balançam sozinhas, os braços que vão atrás de um corpo autónomo, que rodopia sem que o possas controlar. é a tua cabeça a levitar e o teu coração a estremecer.
observas-te de cima, como quem flutua em teu redor e vês uma pessoa que já não conhecias. vês uma miúda com o mesmo nome que tu, e que até se parece contigo, de sorriso escancarado só porque sim. só porque é sábado, só porque está sol, só porque está na feira da ladra. só porque ouve uma música bonita. só porque dança.

e apercebes-te de que te estás a reconstruir aos poucos, a descobrir aos bocados e, a colares-te com super-cola 3, para que nunca mais deixes de ser fiel à melodia que te compõe.

03 fevereiro 2012

que mundo este

uma criança de sete anos ter um iPhone é... simplesmente estúpido.
uma de nove receber um iPad pelo Natal, estúpido a dobrar.
não me lixem.

02 fevereiro 2012

manual da auto-comiseração #2

"já alguma vez foste a melhor?"
tantas histórias, tantos invernos, tantas lágrimas numa só pergunta.
fico-me pelo quase. o quase lá. o lá perto. o penúltimo degrau da escada.
é espreitar da janela sem tocar. é ouvir baixinho sem denunciar. é sorrir de longe sem ninguém ver. é guardar cá dentro com tanta força que a garganta arde.
concluo que o importante não é o resultado mas o caminho. mas logo a seguir tudo isso me sabe a balelas, a clichés, histórias inventadas por vencedores de peito cheio. eles-sabem-lá-o-que-dizem.
na maior parte do tempo é sentires-te quase bem. no tempo que sobra, é levares com uma estalada de realidade dorida na cara. é não entenderes por que é que contigo a história está sempre em repeat.
por que é que és composta de poemas inacabados, notícias incompletas, costuras descosidas, quadros semi-vazios. copos meio-cheios.
entra em cena a malabarista: sempre que um malabar cai, tenta de novo. e espera um dia conseguir.

01 fevereiro 2012

coincidências

"nasce o linho dentro de água
anda sempre regadinho
assim meus olhos com mágoa
parecem irmãos do linho."