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07 fevereiro 2012

great expectations

cresces uma vida inteira na espectativa.
uma vida inteira a dizerem-te que quando fores crescida hás-de ter isto e aquilo e, hás-de poder escolher e, hás-de saber melhor e, hás-de viver assim e assado.
uma vida inteira passa por ti e ninguém te diz que quando lá chegares logo vês, que não vale muito a  pena pensares sobre isso, nem esperares demasiado. que a vida se vive de minuto em minuto. que os planos valem tanto como uma lata de atum. que o importante está nos detalhes, nos amigos que tens, na família que te rodeia, nos abraços inesperados, nas gargalhadas desprevenidas e nas lágrimas a rebentar.
mas ninguém te diz isso.
pelo contrário, cresces a esperar chegar a uma certa idade com uma série de conquistas nos bolsos. família, emprego certo, seguranças, psicoses resolvidas, maturidade suficiente para tomar as decisões certas e saber lidar com a vida.
e agora que estás quase lá a chegar, é que te dás conta de tudo isso.
e até é bonito.
mas custa como uma porta que se fecha no teu nariz.
e em vez de dares valor aos tais detalhes, amigos, família, abraços, gargalhadas e lágrimas, dias há em que olhas à volta e não reconheces conquista nenhuma.
tens quase 30 anos e de vez em quando ainda dependes dos teus pais.
não tens os filhos que tanto querias.
vives sozinha, ninguém depende de ti.
trabalhas sem contrato, sempre no limiar do desconhecido.
manténs uma auto-estima oscilante, que te belisca com força de vez em quando.
os medos e as incertezas que tinhas aos 18 continuam por perto.
ninguém te espera em casa à noite, depois do trabalho. nem ninguém está lá à mão de semear quando só tens vontade de te enrolar num abraço a chorar.
agora até andas sozinha de noite, na rua. a passos rápidos.
e ainda tens a necessidade de despejar o que te passa pela cabeça num blogue.
na tentativa de acreditar que alguém se importa.

mas essa não é a verdade, pois não?
a verdade é que tiveste coragem de agarrar a tua vida pelos cornos. tomar-lhe os pulsos e seguir com força, mesmo que sozinha. e decidir o que te apetece, quando te apetece e viver de minuto em minuto, mas em pleno.
a verdade é que tens os maiores amigos que podias desejar e uma família que te apoia incondicionalmente, e que te enrola num abraço quando precisas de chorar.
a verdade é que tens um trabalho que adoras, que te dá tudo sem pedires nada.
e que chegas a casa para alguém que se tornou família e te recebe sempre de bom humor e vontade de te ouvir.
a verdade é que te sentes leve como há muito não sentias e hoje é só um dia mau.

amanhã vais dançar e espantar tudo isso de sorriso na cara.

e se algum dia tiveres um filho, promete que lhe dizes a verdade.

3 comentários:

jmnpm disse...

A primeira parte do texto é toda verdade, excepto a questão da auto-estima. Tu deverias ter uma auto-estima do caralho porque és uma miúda do caralho.

Diz-te alguém que se importa há mais de 15 anos.

malabarista lisboeta disse...

quem diria que aqueles putos de ciclo preparatório se tornariam nestes adultos que se acompanham de perto, mesmo que a tantos quilómetros de distância?
saudades tuas, meu João.

Anónimo disse...

E foste dançar, e saíste de sorriso na cara... às vezes isso é recompensa bastante.

yours,
dj ;)