uma vida inteira no mesmo puzzle de ruas, nos mesmos quarteirões.
sabes de cor cada pedra da calçada, cada escrito na parede. dizes "olá" ao senhor do talho, "bom dia" à padeira. aproveitas e compras folhas quadriculadas na papelaria da dona são. o caminho para a escola todos os dias, várias vezes.
o coração bate até mais devagar sempre que lá voltas. abrandas. respiras melhor. estás em casa.
do meu novo bairro vê-se o rio ao fundo, lá em baixo, a espreitar por entre telhados e antenas. de tão perto, consegue até sentir-se a maresia em dias de nevoeiro. e ouvem-se os barcos ao longe, a avisar a passagem pela cidade.
uma luz brilhante invade as janelas de casa - essa casa tão bonita -, iluminando as paredes brancas, vazias, só à espera de nova história.
ao fundo da rua o quiosque para tabaco e jornal. a mercearia aberta até tarde, o cheiro a frango assado na rua de cima.
o jardim. esse jardim grande, discreto, guardador de segredos bonitos.
o som do eléctrico sobre os carris.
se esta cidade não for a mais bonita do mundo inteiro, será com certeza a mais bonita dentro de mim.
enamoro-me por ela todos os dias, sucessivamente, a cada rua, cada janela, cada recanto, cada árvore. estendo a língua à chuva e sorrio à luz brilhante.
e sinto o coração a bater mais devagar. a abrandar. respiro melhor.
estou em casa.
1 comentário:
a vossa casa tem uma luz fantástica e vocês ficam tão bem nela.
acho que chegou a hora de aprenderes a fazer bolos. essa casa pede um bolinho quente e um chá ao domingo à tarde.
um abraço.
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