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04 fevereiro 2012

notas de uma música alegre

estava um frio-que-não-se-podia, apesar do sol e, a cabeça tilintava como campainha estridente. tliiiim tliiiim...!
aterras no meio do que te parece Lisboa, mas que te sabe a uma cidade marroquina qualquer, bem no meio da medina: vendedores, regateios, trocas, quinquilharia, tralha-que-nunca-mais-acaba, magotes e magotes de gente. o encanto da feira da ladra ao sábado de manhã.
o rio parece cumprimentar-te com um doce balançar de maré cheia e a sombra que traz o vento diz-te bom dia como quem vive em aldeia.
no meio da multidão algo te faz parar. a música que trazes nos ouvidos e que mais ninguém ouve, chama por ti como quem quer dançar ali mesmo, naquele meio, naquela medina, naquele alcatrão forrado a parafusos, telefones, sapatos mais gastos que o chão, grafonolas, vinis e cães de loiça.
fechas os olhos e sorris. é a música outra vez a chamar por ti.
deixas-te levar por ela, que me interessa se me acham esquisita?
invade-te uma felicidade estranha, esta a que já te vais habituando, pelo menos uma vez por semana. é uma felicidade nova, diferente de tudo.
são as tuas pernas que balançam sozinhas, os braços que vão atrás de um corpo autónomo, que rodopia sem que o possas controlar. é a tua cabeça a levitar e o teu coração a estremecer.
observas-te de cima, como quem flutua em teu redor e vês uma pessoa que já não conhecias. vês uma miúda com o mesmo nome que tu, e que até se parece contigo, de sorriso escancarado só porque sim. só porque é sábado, só porque está sol, só porque está na feira da ladra. só porque ouve uma música bonita. só porque dança.

e apercebes-te de que te estás a reconstruir aos poucos, a descobrir aos bocados e, a colares-te com super-cola 3, para que nunca mais deixes de ser fiel à melodia que te compõe.

1 comentário:

Filipe Gouveia de Freitas disse...

Este jogo inconsequente de quebra-cabeças; uma cidade sempre nova em cada esquina. Há o mistério do azulejo, do varandim com sol, da pessoa que desce as mil escadinhas da cidade que desaguam em bairros e jardins de segredo escondidos atrás de fachadas velhas e também cansadas. Não há domingo, nem dia de estar só- em lisboa há os dias do Sol várias vezes por semana, várias vezes por estação. É esta coisa que não contamos a ninguém- este anseio sempre presente de ser cidade, de estar uno com o espaço da cidade. A cidade tem muitas torres de igreja, muitas praças, muitos cantos guardados. A cidade é prenhe de estórias vividas, contadas, sonhadas, escondidas. A cidade secreta dentro de nós é para sempre cheia de estórias- ansiadas.